Paris é acessível?

Duas imagens dispostas lado a lado de duas placas de sinalização da Torre Eiffel, ambas na cor preta, escrita em branco e com a torre ao fundo. As duas placas mostram, em ângulos diferentes, sinalizações de acessibilidade para acessar o monumento.

Desde que anunciaram a escolha de Paris para sediar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024, que a acessibilidade na cidade (ou a falta dela), vem sendo discutida com grande preocupação por muitas pessoas e entidades envolvidas nesse tema.

Um clima de apreensão paira no ar nesse período de espera, onde uma boa parcela dos visitantes que depende de algum nível de assistência, ainda não sabe se as promessas de investimento em acessibilidade na Cidade Luz serão realmente cumpridas a tempo.

A realidade arquitetônica e urbanística

Claro que não podemos ignorar que estamos falando de uma cidade com séculos de história sendo o centro da Europa, o que obviamente dificulta a implantação da acessibilidade em vários aspectos, mas a crítica acaba sendo muito forte justamente em pontos que poderiam ser aperfeiçoados, como a questão do transporte público, por exemplo.

Quanto aos pontos turísticos, como monumentos, igrejas e museus, a maioria oferece acessibilidade parcial aos visitantes com deficiência ou mobilidade reduzida, justamente pela impossibilidade de oferecer autonomia e segurança a edificações construídas há séculos, geralmente pela dificuldade de acesso a grandes alturas e também pela irregularidade dos pisos.

Situação dos pontos turísticos quando à acessibilidade

Dentre as pessoas com deficiência, os cadeirantes acabam se deparando com as maiores barreiras nesse sentido, por demandarem mais espaço em sua locomoção, mas claro que não podemos esquecer dos outros tipos de deficiência, como a auditiva, a visual e a intelectual, por exemplo, além das pessoas com mobilidade reduzida, que incluem as pessoas idosas, as obesas, as gestantes, as com crianças de colo, entre outras.

De um modo geral, os locais dispõem de banheiros acessíveis e oferecem prioridade de acesso em vários pontos das atrações, além do empréstimo ou locação de cadeiras de rodas e carrinhos de bebê. Alguns até oferecem gratuidade na entrada para a pessoa com deficiência e seu acompanhante, mas pode ser exigido algum documento/laudo oficial, carimbado com menos de três meses e escrito em francês ou inglês, isso vai depender do lugar, então vale a pena se informar com antecedência. Ah, alguns locais aceitam aqueles nossos cartões de vaga preferencial, mas não são todos. Também é comum os pontos turísticos oferecerem audioguias em vários idiomas e alguns ainda contam com uma assistência diferenciada às pessoas com deficiência intelectual (handicapées mentales).

os quatro símbolos de acessibilidade encontrados na comunicação visual em paris, representando, da esquerda para a direita, a deficiência física, com fundo azul e ícone branco; a visual, com fundo verde e ícone branco; a intelectual, com fundo vermelho e ícone branco; e a auditiva, com fundo roxo e ícone branco.
símbolos de acessibilidade mais encontrados nos pontos turísticos de paris

Confira a seguir um resumo da situação atual de alguns pontos turísticos de Paris em relação à acessibilidade:

Torre Eiffel: a pessoa em cadeira de rodas não consegue ir até o topo da torre por conta da segurança em caso de evacuação, mas o elevador no térreo dá acesso até o segundo andar, que também tem uma vista incrível da cidade;

Arco do Triunfo: assim como na Torre Eiffel, o visitante em cadeira de rodas não tem acesso ao terraço com vista panorâmica da cidade, mas consegue ir até a área de exposições. Nesse caso, as pessoas com mobilidade reduzida também encontram dificuldades para subir as escadas muito íngremes e estreitas;

Museu do Louvre: oferece acessibilidade em seu percurso, mas como o fluxo de pessoas é muito grande (e com isso, o desrespeito também), alguns equipamentos de uso preferencial, como os elevadores, acabam sendo utilizados por quem não precisa. Várias pessoas também reclamam da pouca sinalização para esses elevadores, algo simples de resolver e que faria toda diferença aos que dependem desse item para locomoção. Nem todas as salas do museus, por suas configurações originais, podem ser visitadas pelos cadeirantes, mas são uma pequena parte entre as mais de 400 salas abertas ao público;

área de acesso ao elevador acessível logo na entrada da Pirâmide do Museu do Louvre, com uma mulher empurrando um carrinho de bebê do lado esquerdo e o museu ao fundo, visto através dos painéis de vidro da estrutura da pirâmide.
elevador acessível na entrada da pirâmide do museu do louvre | imagem: turistaprofissional.com

Museu d´Orsay: um dos mais elogiados museus como referência em acessibilidade. Possui espaços amplos para a circulação e descanso para cadeiras de rodas em vários pontos; audioguias e mapa táteis para as pessoas com deficiência visual; vagas de estacionamento preferencial (não obrigatórias em Paris) próximas à entrada principal; além dos itens básicos de acessibilidade;

Montmartre: tradicional bairro boêmio parisiense com várias atrações, mas o passeio não é recomendado às pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida por suas ruas em pedras bem irregulares, calçadas estreitas e inúmeras escadarias. A Basílica do Sagrado Coração ou Sacré-Cœur, está localizada nessa região, ela possui acessibilidade mas não oferece o acesso à cúpula, a não ser por uma estreita escada em caracol muito íngreme e claustrofóbica em alguns pontos;

Catedral de Notre-Dame: toda a parte inferior é acessível, mas a visita às torres não possui acessibilidade e nem é indicada para as pessoas com mobilidade reduzida, já que as escadas são em caracol e sem patamares de descanso;

Catacumbas de Paris: apesar de disporem de acessibilidade auditiva, através dos audioguias, esse passeio não é acessível para cadeirantes e também não recomendado para pessoas com mobilidade reduzida, por seu trajeto estreito, sombrio e com piso muito irregular;

Bateaux-Mouches: os românticos passeios de barco pelo Rio Sena são acessíveis para pessoas em cadeira de rodas e também é possível agendar outras atrações, como cruzeiros com refeições, espetáculos e até pacotes especiais para pedidos de casamento (fica a dica). <3

Transporte público acessível

Essa é a pedra no sapato dos governantes de Paris, que há muito tempo são cobrados por mais investimentos no setor, já que estão bem aquém, nesse quesito, de outras capitais europeias.

Definitivamente, o metrô é o transporte menos indicado às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, já que apenas uma linha (a 14, mais recente) é totalmente acessível. Algumas estações aéreas das linhas 2 e 6 possuem elevadores e as demais são repleta de escadarias sem fim.

pessoa descendo da porta central com rampa do ônibus acessível, vestindo calça jeans, blusa branca, jaqueta e tênis escuros.
ônibus acessível em paris | imagem: wheelchairtravel.org

Os ônibus são as opções mais recomendadas, apesar de já ter lido relatos de turistas cadeirantes que tiveram problemas com as portas de ônibus turísticos (L’Open Tour), que fazem aqueles city tours. Mas os ônibus públicos são acessível em seu acesso e também possuem assentos preferenciais.

Hospedagem

Grande parte dos hotéis de Paris ainda não está adequada para receber pessoas com deficiência, na maioria dos casos por estarem implantados em prédios muito antigos, mas os mais novos e de redes mais conhecidas são acessíveis, a dica é sempre se informar sobre os diferenciais disponíveis antes de efetuar a reserva.

Guia de Acessibilidade

Existe um guia oficial de Paris, disponível em francês e inglês, tanto online para download como também impresso nos principais pontos turísticos, que apresenta informações preciosas sobre a disponibilidade de serviços acessíveis em diversos setores, desde a chegada à cidade, como também no transporte, hospedagem, alimentação, passeios, entre outros.

Espero sinceramente que vários dos problemas mencionados neste post consigam ser resolvidos até o início dos Jogos, alguns deles são mais complexos e demandam muito tempo e investimento, mas parece que o governo está bem empenhado em não passar vergonha nesse sentido, mesmo a acessibilidade não sendo uma causa culturalmente abraçada pelos franceses.