Socorro, fornecedores!

Duas imagens dispostas lado a lado, sendo a da esquerda com um homem de pele branca, barba e cabelos curtos loiros, posicionado à frente de uma máquina de autoatendimento

Esse é mais um daqueles “posts desabafo” (quem me acompanha já conhece) onde eu deixo meu testemunho e apelo para situações nada acessíveis do nosso dia a dia.

Como vocês também sabem, não sou uma pessoa com deficiência, mas sou mãe atípica, acompanhando de perto essa causa há quase 14 anos, e é profissionalmente que faço o que está ao meu alcance para divulgar a luta, muitas vezes invisível, dessas pessoas por igualdade de oportunidades e direitos.

Temos o papel, como arquitetos e urbanistas, de projetar ambientes mais acessíveis e democráticos, os quais todas as pessoas possam usufruir com autonomia, conforto e segurança, mas para que isso seja uma realidade em nosso país, precisamos que vários agentes da sociedade estejam alinhados conosco e um deles é o fornecedor de itens acessíveis.

Produtos e serviços acessíveis

Ainda são poucos os fornecedores de produtos e serviços acessíveis especializados no mercado e essa situação não só dificulta o nosso trabalho como também espalha soluções inadequadas nos ambientes de uso coletivo, sejam eles privados ou públicos, vou dar alguns exemplos.

Um dos que mais me chama a atenção, talvez por ser um item presente em quase todos os lugares, é o corrimão de escadas e rampas. O cliente vai lá e chama uma empresa que trabalha com inox ou mesmo um serralheiro para fazer os corrimãos em seu estabelecimento comercial, condomínio ou outro ambiente, sem um profissional arquiteto ou engenheiro para auxiliar na especificações, como acontece na maioria das vezes. E o resultado já conhecemos bem, corrimãos que, por falta de conhecimento de todos os envolvidos, são confeccionados e instalados de forma inadequada. Por que então que essas empresas e profissionais autônomos já não estão preparados para fornecer seus produtos dentro dos padrões de acessibilidade aos seus clientes? São detalhes técnicos como o diâmetro dos tubos para empunhadura correta, alturas dos montantes, tipo dos materiais, entre outras especificações que deveriam ser de conhecimento de todos esses profissionais. O cliente não tem obrigação de saber, mas quem fornece deveria.

Outra experiência que tive recentemente com um cliente do setor corporativo foi com aquelas máquinas de venda de produtos (vending machines), que não estavam dentro dos padrões de acessibilidade estabelecidos pela norma. A NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, dispõe, em seu item 9.4.3.1 que:

"Nos locais em que forem previstas máquinas de autoatendimento, pelo menos uma para cada tipo de serviço deve ser acessível e estar localizada junto às rotas acessíveis". 

A norma também determina outras especificações para esses itens, como condições de piso e iluminação aonde forem instalados, alcance visual e aproximação frontal da pessoa em cadeira de rodas, posicionamento dos controles e de pagamento, alturas adequadas para a retirada dos produtos, entre outras, mas que raramente são encontrados nessas máquinas (eu pelo menos nunca vi). Você já parou pra pensar que pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida não conseguem operar esses equipamentos? Daí eu me pergunto, os fabricantes dessas máquinas já não deveriam obedecer essas determinações que são simplesmente ignoradas pelo setor e fornecer os seus produtos sempre acessíveis?

Homem jovem em cadeira de rodas, vestindo uma blusa de mangas compridas na cor preta e gorro e calça comprida na cor cinza, posicionado à frente de três máquinas de venda de produtos adequadas ao uso por pessoas com deficiência.
máquina de venda de produtos no japão, adequadas às pessoas com deficiência | imagem: hisanoseeds

Outro item que não tem a atenção devida, tanto por parte dos fornecedores como também dos contratantes, é a sinalização acessível, que deveria seguir padrões bem criteriosos nos produtos produzidos e fornecidos pelas empresas de comunicação visual. As placas de identificação de ambientes em espaços de uso coletivo precisam seguir várias regras para que possam informar a todas as pessoas com direito de igualdade, e isso contempla questões de contrastes visuais entre a placa, o texto e a superfície a ser aplicada, de informações em Braille e texto com fonte em alto relevo, local e altura corretas de instalação, entre muitas outras especificações. Sim, é bem complexo, mas repito o que já disse acima, o cliente não tem obrigação de saber, mas quem fornece esses itens precisa conhecer as normas técnicas referentes ao seus produtos, simples assim.

duas imagens dispostas lado a lado, ambas de placas de sinalização de ambientes acessíveis, sendo a da esquerda mostrando dez plaquinhas em duas fileiras de cinco unidades, em cores e contrastes diferentes, onde está escrito "auditório" com o texto em Braille abaixo. A da direita mostra duas placas brancas com informações na cor preta, sendo a da esquerda de sanitário masculino acessível e a da direita de sanitário feminino acessível, ambas com o texto também em Braille abaixo do escrito.
placas de sinalização de ambientes acessíveis | fonte: total acessibilidade

E o mobiliário então, principalmente nos ambientes de trabalho, já não deveria ser oferecido aos clientes dentro dos padrões acessíveis, ou seja, visando atender à diversidade de corpos? Por exemplo, mesas com vão livre de, no mínimo 73 cm (do piso até a parte inferior do tampo), atendem às pessoas em cadeira de rodas e também podem ser usadas por quem não tem deficiência. Por que então os fabricantes desses móveis já não fornecem esse itens nesse formato e aproveitam para reforçar o comprometimento da sua marca com a acessibilidade? Juro que não consigo entender.

Mudança de cenário

Como mudar essa situação? Primeiramente buscando fornecedores comprometidos em oferecer produtos e serviços acessíveis, ou seja, atendendo aos critérios estabelecidos nas normas técnicas vigentes. E isso vale para diversos outros itens que não foram citados aqui, como sinalização tátil de piso, louças e metais sanitários, barras de apoio, pisos antiderrapantes, bebedouros, entre muitos outros. Eles têm sim essa responsabilidade, só não são cobrados por isso.

Já quanto aos profissionais autônomos, como os que oferecem serviços de serralheria, por exemplo, entendo que possa ser mais complexo o acesso às normas específicas e à linguagem mais técnica e, por isso, acredito também que temos o papel de compartilhar esse conhecimento. Portanto, quem precisar de informações nesse sentido, pode entrar em contato que terei o maior prazer em orientar sobre dúvidas a respeito, afinal, precisamos contribuir de alguma forma para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva para todos, não é mesmo?

Nossos serviços são embasados nas normas técnicas e leis vigentes de acessibilidade e estamos sempre em busca de parcerias com fornecedores que se adequem a esse perfil de trabalho, comprometidos em oferecer qualidade e respeito aos clientes.

Para maiores informações, entre em contato conosco.