Ao alcance de todos

Duas imagens dispostas lado a lado, sendo a da esquerda a de uma mulher em cadeira de rodas, de pele branca e cabelos curtos ruivos, usando casaco na cor bege e calça comprida marrom, mexendo em uma impressora ao seu alcance enquanto um homem, de pele branca, calvo, vestindo camisa de manga comprida preta xadrez e calça jeans, está em pé, logo atrás, segurando uma folha de papel. A imagem da direita mostra uma mulher em cadeira de rodas, de pele branca, cabelos ruivos compridos presos e com franja, acionando uma cafeteira na cor preta ao seu alcance, em um ambiente de escritório.

Nas vistorias técnicas de levantamento de dados para a elaboração do Laudo de Acessibilidade, eu comprovo que as empresas, principalmente os escritórios, não costumam se atentar para a questão do alcance dos objetos e equipamentos pelas pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. A preocupação acaba sendo sempre mais direcionada aos sanitários e aos acessos, mas pouco se fala sobre a dificuldade que muitos têm em executar funções simples do dia a dia (ou que deveriam ser).

Desenho Universal

A NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, principal referência em acessibilidade, é embasada no Desenho Universal (confira o post sobre), um conceito que propõe a criação de espaços, objetos e equipamentos urbanos de uso democrático, garantindo condições igualitárias em sua usabilidade e com o objetivo de permitir o uso de todos na sua máxima extensão possível, sem a necessidade de adaptações.

São 7 os princípios do Desenho Universal, mas destaco esses 3:

  • Princípio 01 – Uso equitativo: espaços, produtos, serviços e informações projetados e desenvolvidos para usuários com as mais variadas habilidades;
  • Princípio 06 – Baixo esforço físico: preconiza o uso eficiente e ergonômico, ou seja, confortável e como mínimo de fadiga;
  • Princípio 07 – Dimensão e espaço para acesso e uso: estabelece dimensões e espaço apropriado para o acesso, alcance, manipulação e uso, independente do tamanho do corpo, postura ou mobilidade do usuário.

Resumindo, todas as pessoas, independentemente de alguma limitação física ou habilidade motora, devem ter condições de uso de espaços e objetos de modo confortável e com o mínimo de esforço físico.

Barreiras do dia a dia

Estou falando de limitações rotineiras para as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, barreiras físicas encontradas nos ambientes residenciais, corporativos e urbanos, na maioria das vezes pensados para os usuários padrão, ou seja, pessoas sem deficiência.

Mulher em cadeira de rodas acessando, com dificuldade, uma tomada na parede atrás da bancada de uma cozinha. Ela está vestindo camiseta e calça comprida na cor azul escuro e tem um pano de prato no colo.
imagem: pexels nadiia doloh

E a lista dos itens que costumam passar despercebidos é grande, vai desde a altura de tomadas e interruptores, do alcance de janelas, de equipamentos como impressoras, cafeteiras e bebedouros, de armários, até o acionamento de botões como o de uma simples descarga de sanitário ou mesmo a abertura de uma porta.

Pessoas em cadeira de rodas, com baixa estatura e com alguma deficiência nos membros superiores, são as mais afetadas nessas situações, já que os ambientes e os itens que compõem esses espaços não foram pensados para o uso por todos.

Alcance manual para pessoa em cadeira de rodas

A NBR 9050 determina as dimensões máximas, mínimas e confortáveis para o alcance manual das pessoas em diversas situações:

figura da norma de acessibilidade NBR 9050 mostrando as dimensões de alcança frontal de uma pessoa em cadeira de rodas.
alcance manual frontal de PCR | imagem: ABNT NBR 9050
figura da norma de acessibilidade NBR 9050 mostrando as dimensões de alcança lateral de uma pessoa em cadeira de rodas sem o deslocamento do tronco.
alcance manual lateral de PCR sem deslocamento do tronco | imagem: ABNT 9050
figura da norma de acessibilidade NBR 9050 mostrando as dimensões de alcança frontal e lateral de uma pessoa em cadeira de rodas com o deslocamento do tronco.
alcance manual frontal e lateral de PCR com deslocamento do tronco | imagem: ABNT 9050

Empunhadura e acionamentos

As empresas e outros ambientes de uso coletivo também pouco se atentam aos padrões de empunhadura e acionamento de itens simples do dia a dia, como corrimãos de escadas e rampas, maçanetas, puxadores e botões em geral.

Objetos como corrimãos e barras de apoio devem ter seção circular, com diâmetro entre 3,0 cm e 4,5 cm e estar afastados da parede em, no mínimo 4,0 cm. Esse dimensionamento permite a empunhadura mais adequada em várias condições de uso, por isso que corrimãos em formatos quadrados ou mais mirabolantes não são permitidos. Já os puxadores verticais e horizontais para portas devem ter diâmetro entre 2,5 cm e 3,5 cm, com o mesmo afastamento de 4,0 cm da superfície da porta.

A NBR 9050 determina, em seu item 4.6.6, sobre maçanetas, barras antipânico e puxadores, que:

"Os elementos de acionamento para abertura de portas devem possuir formato de fácil pega, não exigindo firmeza, precisão ou torção do pulso para o seu acionamento".

Isso quer dizer que pessoas com alguma deficiência nas mãos ou impossibilitadas em exercer força através dos membros superiores, por exemplo, possam ter condições de abrir portas, inclusive usando um objeto de apoio ou até outra parte do corpo, como o cotovelo. Portanto, nada daquelas maçanetas redondas, que, inclusive, podem ser perigosas para todos os usuários no caso de incêndio!

O mesmo princípio se aplica ao acionamento de botões, mas que raramente paramos para pensar a respeito. Imaginem com pode ser desafiador aquele tipo de botão que “afunda” dentro de uma superfície, para uma pessoa com pouca mobilidade nas mãos ou com amputação de membros superiores. A mesma norma determina que controles, botões, teclas e similares sejam acionados por meio de pressão o alavanca, sempre sobrepostos e não embutidos, e como, no mínimo, 2,5 cm de diâmetro ou comprimento. Por isso os dispositivos de descarga em vasos sanitários acessíveis são do tipo alavanca ou com botões sobrepostos.

Para refletir

Nos ambientes residenciais fica mais fácil adaptar esses alcances conforme as necessidades da pessoa que precisa, mas nos locais de trabalho, principalmente nos escritórios, é mais difícil fazer mudanças por conta própria e atender a todos da forma adequada. Por isso que é importante seguir as especificações das normas técnicas, pois elas já atendem a todas situações.

Lembrando também que além das pessoas com deficiência, as pessoas com mobilidade reduzida, permanente ou temporária, também podem, a qualquer momento, fazer parte do quadro de funcionários de uma empresa, seja pelo uso de algum equipamento de apoio à mobilidade, como muletas, andador, bengala ou mesmo cadeira de rodas, por conta de uma cirurgia ou acidente, ou ainda por uma gestação.

E fica aqui a pergunta, será que o seu ambiente de trabalho está preparado para acolher a diversidade?

Para maiores informações sobre adequações ou laudos técnicos de acessibilidade, entre em contato conosco.