Precisamos, de uma vez por todas, desmistificar essa visão, muito comum, que as pessoas costumam ter da acessibilidade, no caso, a arquitetônica, de que ela não é para todos. Muito pelo contrário, minha gente, a acessibilidade é um direito fundamental, tão importante quanto outros direitos, como educação, saúde e moradia, mas sabemos bem que a realidade é outra e que a sua adesão ainda está muito distante do ideal.
Outra crença muito comum é que a implantação da acessibilidade nas edificações pode ser parcial. Não, ela precisa atender a todos e para que isso seja executado da melhor maneira possível é fundamental seguir à risca a NBR 9050:2020 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, principal referência técnica sobre o tema.
Como assim 100% acessível?
É simples, não tem como ser acessível apenas aonde convém ou onde o responsável por um determinado local achar necessário. É preciso ter embasamento técnico para isso. Acredite, são muitos os detalhes e as situações inusitadas que somente a experiência prática permite encontrar as soluções mais adequadas a cada caso.
Seguem alguns exemplos de práticas comuns nos estabelecimentos comerciais e espaços de uso coletivo em nossas cidades que não garantem a acessibilidade em uma edificação:
- Construir uma rampa de acesso sem se atentar à sua inclinação e vários outros elementos complementares;
- Disponibilizar vaga de estacionamento preferencial fora dos padrões dispostos pelo CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito;
- Não adequar a calçada, que é de responsabilidade do dono do imóvel e que também deve ser acessível;
- Instalar barras de segurança em um sanitário e entender que isso já o torna acessível;
- Não pensar na circulação das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, já que elas devem ter acesso a todas áreas comuns, como os demais usuários;
- Ignorar a sinalização nos ambientes, seja ela tátil, visual ou sonora;
- Não instalar corrimãos em duas alturas e com a empunhadura adequada em ambos os lados de todas as rampas e escadas;
- Não disponibilizar cardápios em Braille, no caso de bares e restaurantes;
- Não se atentar às dimensões de mobiliários, que, muitas vezes, por alguns centímetros, já estariam adequados aos padrões;
- Entre outros.
Resumindo, a existência de uma rampa, por si só, não torna um lugar acessível, mas, geralmente, é essa leitura feita pelo público em geral e é exatamente isso que precisamos mudar. É preciso que cada vez mais arquitetos e engenheiros sejam conscientizados dessa necessidade para que a acessibilidade seja disseminada, na prática, em nossas cidades. E é preciso também que cada cidadão seja empático nessa luta, que não é apenas das pessoas com deficiência e sim de um futuro mais inclusivo e justo para os que vierem depois de nós.