Acessibilidade no trabalho

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, dispõe, em seu art. 34 que:

"A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas."

Perfeito, o melhor dos mundos, mas sabemos que, na prática, a realidade é bem diferente e que o Brasil ainda está muito distante de oferecer ambientes de trabalho acessíveis de verdade.

As esferas da Acessibilidade

Quando falamos de inclusão nos ambientes de trabalho, não podemos tratar a acessibilidade de forma isolada, pois como eu sempre reforço nos posts, ela precisa ser 100% abrangente em suas esferas e atender a todos. Os requisitos estão especificados na mesma lei federal citada anteriormente, bem como a definição das barreiras encontradas nesses locais e que precisam ser eliminadas, sendo elas:

Barreiras nos transportes:

São “as existentes nos sistemas e meios de transportes”, primordiais para a locomoção do indivíduo que precisa chegar ao trabalho e que sabemos o quanto ainda são deficientes em nosso país. Se o transporte público, principalmente nas grandes cidades, já costuma ser caótico por si só, imagine o que enfrentam as pessoas com deficiência nesse sentido.

Barreira urbanísticas:

São “as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo”, ou seja, o caminho em si, ruas e calçadas, mobiliário e equipamentos urbanos, tudo tem que estar preparado para receber as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, pois se o indivíduo não consegue nem se locomover com autonomia e segurança nesses espaços que, na teoria, deveriam ser exemplares, o que esperar dos demais lugares?

Barreiras arquitetônicas:

São “as existentes nos edifícios públicos e privados”, desde a calçada, passando pelas áreas de uso comum até o ambiente de trabalho em si, onde o mobiliário, a sinalização, os acessos, todos os equipamentos e as áreas como sanitários, vestiários e estacionamentos também devem ser contempladas.

Barreiras nas comunicações e na informação:

Definidas como “qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação”, pois as empresas precisam se adequar para que as pessoas em suas diferentes condições, possam desempenhar suas funções e se comunicar com a mesma autonomia que as demais. E essas formas de interação podem abranger a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados, entre outros.

Barreiras tecnológicas:

São “as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias”, portanto as empresas devem adequar suas rotinas e equipamentos para que as pessoas possam desenvolver suas atividades em igualdade de condições e oportunidades que as demais. Mas é importante ressaltar que cada tipo de deficiência, seja ela física, intelectual ou múltipla, demanda intervenções especificas e cabe à empresa a responsabilidade dessas adequações.

Barreiras atitudinais:

Como o próprio nome já diz, são as “atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas”. Talvez a mais complexa de todas, pois envolve preconceito, capacitismo e a forma em como as deficiências são vistas pela sociedade, além de comportamentos totalmente inadequados que possam inibir, coibir, oprimir, desencorajar, restringir ações e permanências nos espaços.


Cenário atual

Segundo o módulo “Pessoas com Deficiências” da PNAD Contínua 2022, o Brasil tem 17,5 milhões de pessoas com deficiência em idade de trabalhar ou 10% do total da população a partir de 14 anos de idade, sendo 5,1 milhões dentro e 12,4 milhões fora do mercado de trabalho, uma realidade que não deveria ser ignorada, não é mesmo?

O papel das empresas

É fundamental que as empresas percebam que ambientes de trabalho acessíveis contribuem diretamente com o aumento da produtividade e promovem a captação de novos talentos para a equipe. Isso sem falar que a diversidade sempre agrega valores nas relações interpessoais, como autoconhecimento, empatia, assertividade, ética e cordialidade, tornando os ambientes de trabalho muito mais agradáveis, saudáveis e, consequentemente, mais produtivos.

Que as empresas passem a ter um novo olhar para essa realidade no Brasil, tão desigual em várias esferas e que precisa, mais do que nunca, dar espaço, voz e poder às pessoas com deficiência, de modo que esse grupo tão diverso seja plenamente capaz de exercer seus direitos com autonomia e contribuir com a construção de um país mais justo e menos desigual.