Rampas radicais

Rampa Sem Acessibilidade

As rampas são temas recorrentes por aqui, mas, infelizmente, como alvo de críticas, pois é muito fácil encontrar exemplos desses elementos construtivos tão importantes, projetados e executados de forma incorreta. Uma pena, realmente, pois elas deveriam existir para permitir o deslocamento de todas as pessoas com autonomia, conforto e segurança, mas sabemos que, de modo geral, não é isso que acontece nos ambientes públicos e de uso comum nas nossas cidades.

Eu costumo andar pelas ruas de olho nelas e sempre fotografo as que me chamam a atenção por alguma razão, então resolvi listar e também ilustrar aqui os principais erros encontrados nas rampas de acesso a estabelecimentos comerciais e de uso coletivo, mas sem citar nomes, pois não quero confusão com empresário que, de repente, se sentir exposto (e porque provavelmente eu iria tretar com a cidade inteira), não vale a pena o estresse, então vamos lá:

Corrimãos e guarda-corpos

Na categoria corrimãos e guarda-corpos, temos exemplos para todos os gostos! Brincadeiras à parte, até porque o assunto é sério e envolve segurança, dá pra encontrar de tudo mesmo por aí, não só nas rampas, mas também nas escadas, já que esses são itens obrigatórios em ambos os casos.

O mais comum são as rampas sem corrimãos e guarda-corpos nos dois lados, às vezes eles só aparecem em um dos lados e muitas vezes nem existem mesmo. E não basta eles serem instalados de qualquer jeito, é preciso obedecer algumas regras estabelecidas em norma, como o diâmetro correto de empunhadura, as duas alturas para os corrimãos de 70 cm e 92 cm, seu prolongamento de 30 cm nas extremidades, entre outras.

Inclinação

A superfície com declividade a partir de 5% já é considerada rampa e precisa obedecer as regras de inclinação para que todos os usuários, sejam eles pessoas em cadeira de rodas, pessoas com mobilidade reduzida ou qualquer indivíduo com ou sem alguma deficiência, possam utilizá-la com autonomia, ou seja, sem ajuda de terceiros. Mas o que vemos pulverizadas em nossas cidades são rampas íngremes e totalmente fora dos padrões.

Piso

Os materiais utilizados nos pisos, inclusive nas rampas, devem oferecer estabilidade e segurança ao usuário, devendo ser não trepidantes (pensando nas pessoas em cadeira de rodas e outros veículos) e ainda antiderrapantes, inclusive quando molhados, no caso das áreas externas. Portanto, as pedras não podem ser utilizadas nesse caso.

Patamares

Eles devem existir no início e término das rampas, na mudança de direção dos trechos e também onde esses forem muito longos, permitindo assim um descanso do usuário, sempre com 1,20 m de comprimento.

Guia de balizamento

Trata-se de uma “muretinha”, de no mínimo 5 cm de altura, que deve estar presente nas laterais das rampas onde não existirem paredes. Elas servem para que pessoas com deficiência visual possam se orientar com suas bengalas e também para garantir que as cadeiras de rodas se mantenham dentro do trecho de rampa.

Piso tátil

A sinalização tátil de alerta no piso deve ser instalada no início e no término das rampas, sendo que na base, ela deve estar alinhada ao início do declive e, no topo, deve ter um afastamento entre 25 cm e 32 cm. O piso tátil não deve ser instalado nos patamares intermediários, salvo algumas exceções.

Na prática

Agora que você já sabe que projetar ou construir uma rampa é bem mais complexo do que parece, vamos às imagens de algumas delas, fotografadas por mim em uma breve caminhada pelo bairro. Perceba que muitos dos itens citados acima nem foram contemplados em algumas delas e, no caso do piso tátil, em nenhuma.

Eu brinquei sobre o estresse com os proprietários de estabelecimentos comerciais em desacordo com as normas de acessibilidade, mas eu também entendo, de certa forma, o lado dessas pessoas, a partir do momento que a informação técnica nem sempre chega até elas da forma correta e já que, muitas vezes, esses empresários acreditam que o responsável técnico, no caso o profissional arquiteto ou engenheiro, cumpriu o seu papel como deveria.

Claro que todos têm a sua parcela de responsabilidade em situações como essa, mas o conhecimento técnico e a sua devida implantação, tanto no projeto como na obra, deve sempre partir de nós, não é mesmo? Então é preciso que a acessibilidade seja cada vez mais difundida, que toda a população e não só as pessoas com deficiência, estejam envolvidas e sejam impactadas por essa causa, pois somente assim conseguiremos que as nossas cidades sejam mais democráticas e inclusivas.

E, para finalizar (e também descontrair), reflita comigo: como o proprietário de um estabelecimento comercial instala uma placa como essa junto à rampa principal de acesso e acredita que, com isso, tudo está resolvido?